Engenheiro Henrique Carreiro - Microsoft

Exm.o Senhor Ministro da Ciência e Tecnologia, minhas senhoras e meus senhores

Boa tarde. É com grande prazer que aceitámos o convite que o Observatório da Ciência e Tecnologia gentilmente endereçou à Microsoft para participar nesta jornada de reflexão. Aproveitaremos a oportunidade que nos é concedida para fazer uma breve resenha da actividade da Microsoft no âmbito das iniciativas relacionadas com projectos de investigação nesta área e em particular para a língua portuguesa. Sendo a Microsoft um grande produtor de software, o processamento da linguagem natural assume, no âmbito dos seus interesses, uma posição de elevado destaque e interesse estratégico. É nossa convicção que o processamento da linguagem natural tem, como fim último, possibilitar a comunicação entre o ser humano e o computador com a mesma naturalidade com que os humanos se relacionam entre si. Deverá ser possível aos seres humanos conseguir que os computadores produzam resultados apenas por interpretação de ordens verbais em linguagem comum e não por meio de instruções codificadas em linguagens específicas, como agora acontece. E esta não é uma tarefa simples para uma máquina. Não deixa de ser uma ironia que a linguagem natural, o sistema de símbolos que é mais fácil aos seres humanos aprender e usar, seja também a forma mais complexa de comunicar com um computador. Muito tempo depois de os computadores terem provado as suas capacidades para inverter matrizes com rapidez e elegância, falham ainda quando se trata de dominar os rudimentos das linguagens faladas e escritas. Temos, na Microsoft, um grupo de investigação na área do processamento de linguagem natural integrado no nosso laboratório Microsoft Research. Este grupo engloba cerca de trinta investigadores de craveira mundial, contando com nomes como os de Karen Jensen, George Heidorn ou Steve Richardson. Estes três cientistas trabalharam com investigadores portugueses no passado e conhecem bem o trabalho por estes desenvolvido, em particular o da Professora Diana Santos. O grupo dirigido por Karen Jensen tem como missão conceber e construir sistemas computacionais que sejam capazes de analisar, compreender e gerar discurso em linguagem natural. Para os interessados em conhecer com maior profundidade o trabalho dos investigadores do Microsoft Research nesta, aconselhamos vivamente a consulta da respectiva página Internet (http://www.research.microsoft.com/nlp), onde estão disponíveis os "papers" e relatórios por estes publicados. Impõem-se aqui, naturalmente, algumas palavras acerca do Microsoft Research. O Microsoft Research é um laboratório de investigação na área da ciência de computadores criado em 1991 por Bill Gates e Nathan Myhrvold. Um dos objectivos do Research é alargar o âmbito dos conhecimentos na área da informática e ciência dos computadores, numa perspectiva inovadora mas simultaneamente prática. Outro, é o de tornar os computadores mais fáceis de usar e mais úteis do que são actualmente. As aplicações da investigação do MS Research podem ser encontradas em numerosos produtos, como o verificador de gramática de Inglês e os assistentes que acompanham as novas aplicações de produtividade pessoal -- nomeadamento, o Office 2000. O Microsoft Research tem actualmente instalações em Redmond (no campus da Microsoft), em S. Francisco, em Pequim e, mais recentemente em Cambridge. No passado mês de Novembro, a Microsoft estabeleceu, em Cambridge, um novo grupo, cujo papel é expandir as relações da Microsoft com as universidades europeias. Um dos problemas que exigem um maior cuidado no relacionamento entre empresas e institutos de investigação nos casos de projectos conjuntos, é o da gestão dos direitos intelectuais sobre os resultados obtidos. Trata-se de uma área particularmente delicada e que pela nossa experiência tem trazido dificuldades à implementação de projectos locais, dificuldades essas que esperamos ver ultrapassadas à medida que os nossos investigadores colaborem e cooperem com os de outras instituições. Um dos motivos para a existência do grupo de Cambridge é precisamente estimular as comunicações entre o Microsoft Research e investigadores na área da Ciência de Computadores na Europa e portanto a promoção e a cooperação a todos os níveis entre os investigadores do nosso laboratório e os seus congéneres das Universidades europeias. Esperamos vir a organizar e manter um conjunto de encontros entre os investigadores do Microsoft Research e os colegas das Universidades Europeias, para apresentação mútua de trabalhos e trocas de experiências. Durante o corrente mês de Abril deverá decorrer o primeiro destes encontros, em Cambridge, e é com grande satisfação que anunciámos que foram endereçados convites a investigadores portugueses, nomeadamente no âmbito da investigação em processamento de linguagem, para estarem presentes no evento. Tem sido também motivo de grande preocupação da subsidiária portuguesa da Microsoft estimular a chamada localização, isto é, a tradução, das suas aplicações para português. Antes de tomarmos a iniciativa de converter para português os nossos sistemas operativos de grande consumo e as nossas aplicações de produtividade, era quase uma regra no mercado nacional que as aplicações para microcomputadores só seriam fornecidas nas versões originais inglesas ou nas traduções brasileiras. É também sabido que estas, mesmo que concebidas com qualidade e rigor, se deparavam sempre com a resistência dos utilizadores. Actualmente, cada nova versão do Windows ou do Office surge praticamente em simultâneo na versão inglesa e na portuguesa. Estamos igualmente a fazer um enorme esforço para que o Internet Explorer, cujo ritmo de actualização é superior ao das aplicações de produtividade, esteja também disponível em português em cada nova versão. Este esforço tem sido recompensado pela divulgação que os fornecedores de serviços Internet e os fornecedores de conteúdo têm feito de produtos de acesso baseados no Internet Explorer. Estamos orgulhosos de termos contribuído decisivamente com este nosso empenho na localização de produtos como o Internet Explorer para que a Internet seja acessível a faixas da população que por barreiras de língua estariam de outro modo ausentes da revolução da Web. Nunca é de mais salientar que a par com condicionalismos económicos, é a questão da língua que mantém ainda grandes camadas da população afastadas dos computadores e do acesso à Internet. O nosso trabalho, a nível da subsidiária nacional da Microsoft continua a ser no âmbito de diminuir drasticamente as barreiras de entrada nas tecnologias da informação. Cientes de que sem conteúdos nacionais, todo o esforço de localização de sistemas, aplicações e browsers pouco impacto terá na grande maioria da população que lê e escreve apenas em português, temos vindo também a desenvolver um esforço de estímulo ao aparecimento de conteúdos em língua portuguesa. O apoio da Microsoft a projectos como o Terrávista, onde mais de 30 mil internautas colocaram já as suas páginas, na maioria em português, é uma prova do empenho da Microsoft na criação de uma Internet em língua portuguesa. A Microsoft tem vindo igualmente a apoiar e divulgar os produtos de parceiros de desenvolvimento, nomeadamente dos que criam aplicações que complementam e alargam as funcionalidades dos nossos programas. Alguns destes parceiros têm obtido uma notável projecção internacional e são hoje sólidos valores na nascente indústria nacional de alta-tecnologia. Uma das preocupações principais da subsidiária portuguesa da Microsoft tem sido a de alargar cada vez mais a acessibilidade das instituições e agentes de educação às tecnologias de informação. Neste âmbito podemos salientar os protocolos estabelecidos com a Fundação para a Computação Científica Nacional e com o Ministério da Educação que dão acesso aos produtos da Microsoft em condições particularmente favoráveis a escolas, estudantes e professores. Num ano em que tanto se fala em "código aberto" é bom recordar que a Microsoft tem acordos com Universidades e instituições científicas que permitem o acesso ao código fonte do Windows NT para efeitos de investigação. Em Portugal, o INESC tem, desde 1993, um acordo de acesso a código fonte com a Microsoft que lhe permite conhecer e estudar o código do Windows NT. Não queria deixar de anunciar aqui uma iniciativa que estamos certos virá de encontro ao desejo por diversas vezes formulado por investigadores nesta área. A subsidiária portuguesa da Microsoft, vai lançar em breve um programa de apoio aos investigadores que trabalham em Portugal em processamento de linguagem. Este programa incluirá a cedência das ferramentas de desenvolvimento e de produtividade da Microsoft, nomeadamente o Windows NT, o Office e as linguagens correntes de programação como o Visual C++, sem encargos, aos investigadores desta área. Exmº Senhor Ministro da Ciência e Tecnologia, minhas senhoras e meus senhores, quero agradecer desde já a atenção que dispensaram a estas nossas palavras. Quero também deixar aqui os votos de que desta reflexão nasçam as linhas de orientação para uma política de estímulo ao aparecimento de projectos de investigação no âmbito do processamento computacional da língua portuguesa. Esta é uma área certamente crucial para que as tecnologias de informação possam cumprir as suas promessas de chegar à grande maioria da população nacional e não apenas a um número limitado, como hoje acontece. Muito obrigado e muito boa tarde.


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