Engenheiro Daniel Brito e Cunha

Estou aqui e, antes de começar vou explicar porque é que estou aqui. Chamo-me Daniel Brito e Cunha e a minha especialidade profissional não é a Linguística, é a Engenharia Civil. Recebi um convite do Observatório das Ciências e das Tecnologias para vir aqui. Como sou completamente surdo tenho muita dificuldade em participar neste debate. Antes de vir aqui pedi ajuda ao Secretariado Nacional da Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência (S.N.R.P.I.D.) para me ajudarem enviando um intérprete de Língua Gestual para me apoiar nesta reunião mas eles não me responderam. Mandei também um fax com igual pedido para a Comissão Organizadora deste evento mas, também não me deram resposta. Mas mesmo assim vou falar porque a minha presença aqui é essencialmente para chamar a vossa atenção para uma coisa que eu considero muito importante. Vou procurar ser o mais sucinto possível. Já há vários anos que tenho dedicado a minha energia a várias organizações não-governamentais para resolver os problemas de comunicação de pessoas surdas. Através de organizações não-governamentais tenho promovido trabalhos de investigação linguística sobre a língua Gestual Portuguesa. E, ao mesmo tempo, fazer alguma coisa para que as pessoas surdas dominem melhor o Português verbal e escrito. Uma coisa para a qual chamo a vossa atenção é a situação das pessoas surdas. Eu falo daquelas que saem agora das escolas com baixox níveis de literacia, o mais que grave é gravíssimo. Eu próprio posso estimar que só noventa por cento dos jovens que saem do ensino secundário especial é que conseguem escrever uma frase correctamente ou ler um jornal. É isso mesmo. Quer isso dizer que a iliteracia dos surdos e mesmo dos surdos que saem agora do ensino especial é gravíssima. Isto é uma situação que tem permanecido completamente escondida. Estas situações … pelos responsáveis pelo poder político, o Ministério da Educação esconde tudo. Depois temos as próprias organizações não-governamentais de surdos que têm vergonha em reconhecer como a população surda portuguesa é tão iletrada.

(Interrupção )

Há pouco foi mencionado que há quem faça trabalhos de investigação ou já tenha feito e guarde isso para si. Eu próprio tenho sido testemunha de vários trabalhos de investigação linguística, na área das Línguas Gestuais onde não tem havido nenhuma divulgação. Já se tem feito alguns trabalhos cá em Portugal. Os que eu considero mais relevantes e que tem sido publicados, ou seja, os únicos que tem sido publicados, são os que foram concluídos pela Senhora Professora Doutora Raquel Delgado Martins da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A importância da investigação linguística na Llíngua Gestual pode justificar-se pelo seguinte: Há quem diga que uma Língua Gestual tem a sua gramática e sua sintaxe, mas também há quem pergunte onde é que estão as provas científicas disso. E aí está a importância da investigação linguística sobre as Línguas Gestuais. Infelizmente aqui em Portugal eu posso apontar isto tudo com o dedo muito acusador. Já se tem desperdiçado muitos recursos do erário público, dos próprios fundos da União Europeia. Tem-se realizado trabalhos mas não se tem publicado nada. Eu próprio já vai para cinco anos promovi um trabalho…

Professor Luís Magalhães

Olhe por favor, a ideia que foi lançada era de perguntas para as pessoas que fizeram uma intervenção. Nós vamos ter um período de debate no final da tarde, as perguntas agora eram necessariamente muito curtas, de forma que eu pedia para terminar a intervenção e depois se pretender retomar no período da tarde.

Engenheiro Daniel Brito e Cunha

Ao fim da tarde. Agora vou explicar porque não tenho intérprete de Língua Gestual e vou passar o resto do dia a secar sem poder acompanhar eficazmente os debates. Portanto vou aproveitar agora. É mais vantajoso para mim, melhor agora…, foi para isso que eu vim aqui, para chamar a vossa atenção, para consciencializar todos os presentes para a importância que nesta estratégia que aqui se está preparar e que eu aplaudo profundamente para que não esqueçam as pessoas surdas, os seus problemas de comunicação e importância de se conduzirem trabalhos científicos sobre as línguas gestuais. Há muito, mesmo muito a fazer para ajudar as pessoas surdas a resolver os problemas de comunicação. As tecnologias da informação oferecem mesmo muitas potencialidades. Eu próprio neste momento estou envolvido num projecto para criar um gestuário digital interactivo. Aí vai ser a melhor maneira para se conseguir ajudar as pessoas a aprender línguas gestuais. Muito obrigado a todos.


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