Dr. João Sequeira - Radiotelevisão Portuguesa, SA

Só acrescentar um pouco mais a esta discussão nesta sua fase final. Saudar em primeiro lugar a iniciativa da organização de umas jornadas na área da língua portuguesa e de certa maneira questionar aqui também um pouco em termos das opções e das políticas de investigação, nomeadamente no que diz respeito ao papel das grandes empresas públicas nessa vertente, dado que são normalmente grandes investidores em tecnologia e têm por esse facto um papel muito especial nesta área. Papel esse que na minha óptica não tem sido suficientemente equacionado do ponto de vista político por um lado, e depois também do ponto de vista interno das próprias empresas, na identificação das utilizações que se podem fazer das tecnologias e nomeadamente deste tipo de tecnologias. O facto de eu estar aqui hoje, tem também a ver um pouco com essa minha percepção. Quer dizer, nós internamente na RTP, temos tido essa preocupação e percebemos a importância, ou pelo menos temos vindo a tentar perceber, a importância das evoluções nesta área, nomeadamente do tratamento da linguagem natural, do reconhecimento de voz e suas implicações na área da codificação de vídeo e audio digitais, e portanto, para nós o grande problema põe-se ao nível do que eu acho que deve ser a investigação aplicada em Portugal. Quer dizer, há um nível de desenvolvimento da investigação aplicada que deve ser dado a conhecer às empresas. As empresas por si só, no seu dia a dia, não têm normalmente a massa crítica necessária ou pelo menos não têm suficientemente capacidade, de estar a par do estado da arte nalgumas àreas de investigação e muitas vezes, por esse facto acabam por ir comprar tecnologia que pode perfeitamente ser feita ou desenvolvida internamente, como aliás é o caso da nossa experiência, normalmente, nestas questões. Digamos portanto que do ponto de vista dos grupos de investigação, é importante que dêem a conhecer o seu trabalho às empresas e que as próprias empresas, nomeadamente os grandes investidores públicos, tenham a nível político uma espécie de obrigação de investimento, em tecnologia e investigação nacional; mas por outro lado, tenham capacidade técnica elas próprias de, através da participação nos grupos de discussão ou vendo exactamente qual é o estado da arte das diversas tecnologias, conseguir identificar produtos e áreas de trabalho que possam melhorar produtos, serviços ou processos de trabalho. E parece-me que, nomeadamente nesta área, que é uma das áreas onde essa evolução tem sido muito grande e se bem que existam ainda grandes limitações; de qualquer maneira existem, e basta olhar um pouco para a minha própria experiência pessoal, se começar a pensar um pouco nisso, conseguirei identificar de imediato cinco ou seis áreas de trabalho, dentro daquilo que nós fazemos diariamente, onde uma aplicação destas tecnologias é importante. Em suma, o que eu queria ressaltar aqui hoje era um pouco esses dois aspectos ligados à política de investigação aplicada em Portugal. Por um lado, o papel dos grandes investidores e, digamos, do papel normativo do Estado a esse nível, obrigando as empresas a investir em tecnologia nacional. Por outro lado, os próprios grupos de investigação de se ligarem, às empresas e, centrados nos processos ou nos produtos, tentar ajudar a fazer pelo menos aquilo que o estado da arte de determinadas tecnologias permitem fazer. Porque por essa via se pode rentabilizar o investimento em investigação e se pode posteriormente por via dos direitos de propriedade intelectual gerar dinheiro para auto-financiar os grupos de investigação.


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