Engenheiro Vasco Fernandes Teixeira – Porto Editora

Boa tarde a todos. Antes de mais queria agradecer o convite do Observatório das Ciências e das Tecnologias para participar neste debate público. Eu vou tentar, nuns breves 10 minutos, 15 minutos, dar o ponto de vista de uma empresa sobre a temática deste debate. É um ponto de vista muito diferente daquilo que ouvimos aqui hoje e eu confesso que cheguei a pensar em organizar um pequeno texto para ler aqui, mas como, não só não gosto de ler porque é mais frio em termos de comunicação, mas sobretudo aquilo que me fez não o escrever e tentar improvisar é que não sabia muito bem que tipo de intervenções iam acontecer porque não sou um "habitué" deste tipo de debates. Sinto-me um pouco como peixe fora de água neste fórum, porque a tónica tem estado toda, com o peso que deve estar também, na investigação, nas universidades, nos financiamentos à investigação. A minha área é completamente diferente e é a área empresarial. Na área empresarial, como bem sabem, os sucessos e os fracassos medem-se por lucros e prejuízos e por isso nós temos que ter uma estratégia e política nestas áreas da edição electrónica muito pragmáticas e, neste particular, da edição electrónica relacionada com o processamento computacional da linguagem.

Consegui ler grande parte do texto da Professora Diana Santos e a minha opinião é que ela elencou os principais problemas, apontou algumas soluções, nomeadamente a de tentar criar equipas mistas de trabalho, mas creio que será bem mais difícil levá-las à prática do que as elencar. No âmbito de instituições públicas, de universidades, institutos, é por vezes muito difícil pôr técnicos de diferentes áreas a colaborar uns com os outros. A nossa empresa, a Porto Editora, tem desenvolvido essencialmente a sua actividade na área da edição electrónica, uma vez que continuamos e espero que continuemos durante bastante tempo a fazer a edição tradicional, a conhecida edição em papel. Temos tido três vertentes de orientação na área da edição electrónica. A primeira é a parceria com empresas exteriores, normalmente empresas pequenas de software, que têm características muito específicas, têm normalmente competências de muito boa qualidade e, nesse tipo de parceria, trabalhamos em conjunto no sentido de levar produtos até ao mercado. E por isso, não só aumentámos o nosso leque de intervenção, como achamos que fazemos aí algum papel importante de criar condições para que apareça determinado tipo de produtos que doutra forma, se calhar por dificuldades de investimento ou de canais de comercialização, poderiam não aparecer.

A segunda orientação, menos importante para nós, é a distribuição de produtos editados por terceiros, que não têm acesso a canais de comercialização eficazes e que, normalmente - são empresas ou até universidades - têm que recorrer a empresas, como é o nosso caso, que têm canais de distribuição, de armazenamento e toda a logística para fazer os produtos chegar ao mercado. De notar que quando se trata de produtos, o chegar ao mercado, o conseguir divulgá-los, o conseguir comercializá-los é muitíssimo importante, o que não é o caso, obviamente, na fase de investigação.

E a terceira, que é talvez para nós a mais importante e a mais aliciante, é a edição de produtos concebidos e elaborados pelas nossas equipas editoriais e técnicas. E aqui os desafios da edição electrónica, os quais abraçamos desde 93, fizeram-nos criar internamente, dentro da empresa, equipas multidisciplinares cobrindo as várias áreas e tentando fazer com que elas trabalhem em conjunto. É óbvio que dentro de uma empresa, dentro de um mesmo organismo, com uma determinada personalidade e uma determinada maneira de actuar é bem mais fácil pôr os informáticos, os linguistas, os técnicos de som, os técnicos de vídeo digital e os revisores de texto a trabalhar em conjunto e conseguir resultados muito interessantes em termos de rapidez e de eficácia. E é a interacção destas diferentes áreas de especialidade que tem motivado a produção de uma série de produtos desenvolvidos de raiz dentro da nossa estrutura e que tem permitido alguma visibilidade neste mercado, para além daquele que referi em primeiro lugar, a parceria com empresas exteriores e o desenvolvimento de produtos em conjunto.

Relativamente ao mercado português, ele é efectivamente muitíssimo residual. É mesmo um mercado muito pequeno, quase sem massa crítica. Aqui há uns dois ou três anos, um austríaco cujo nome não me recordo, numa conferência aqui em Lisboa sobre edição electrónica, dizia que o mercado português não existe. Ele é efectivamente tão pequeno, tão pequeno que, no caso da edição electrónica a níveis internacionais, ele praticamente não existe. Nós temos que trabalhar com orçamentos de investimento em produtos que são normalmente uma fracção infinitesimal dos orçamentos de marketing que os mercados desenvolvidos, americanos e europeus e outros trabalham, e por isso a grande dificuldade das empresas portuguesas é sobretudo a rentabilidade dos seus investimentos. Conseguimos ter acesso a competências técnicas pois, felizmente, as nossas universidades e os nossos institutos produzem e contribuem para desenvolver um conjunto de técnicos que, quando saem das universidades, encontram algum mercado em algumas empresas. Conseguimos assim ter técnicos com grandes competências ao nível se calhar do que de bom há também na Europa, mas as nossas dificuldades são, sobretudo, conseguir graus de investimento que nos permitam rentabilizá-los para um mercado tão pequeno com o português. E apesar de hoje se terem falado aqui de 120 milhões de falantes de português no mundo, o facto é que o Brasil, em termos de produtos comerciais, é outra língua. Nós conseguimos realizar três contratos de cessão de direitos de 3 CD-ROMs para o mercado brasileiro e tivemos que fazer as chamadas localizações, que são bem mais do que traduções, são adaptações completas do texto e das locuções, dos vídeos, das animações, etc. São três produtos essencialmente educativos e os brasileiros tiveram que os traduzir, gravar de novo as locuções e nós fizemos a integração e estão a começar a ser comercializados lá. Eu devo-lhes dizer que fiquei com os cabelos em pé quando vi um dos produtos, que é o Zoo Virtual, a caixa da versão brasileira diz Zôo Virtual, com um acento circunflexo no primeiro "o". Por isso, por um pormenor tão simples como este, vemos a diferença que há entre duas línguas que são aparentemente tão próximas uma da outra.

Eu terminaria esta minha intervenção definindo aquilo que nós pensamos em termos de futuro. Vamos continuar a privilegiar as parcerias com empresas especializadas e com capacidade técnica e tecnológica para, em associação com uma editora, elaborar produtos que sejam interessantes para o mercado português, com todos os cuidados e restrições que o mercado obriga e vamos também continuar a desenvolver internamente as competências que achamos que precisamos de ter para uma maior e mais rápida interacção entre os técnicos das diferentes especialidades para garantir uma eficaz produção deste tipo de projectos. Obviamente que estamos abertos a colaboração com instituições de investigação e universidades para integrar alguns projectos, embora sempre com um determinado princípio, ou seja, que tenham uma vertente relativamente pragmática e que apontem para produtos comercializáveis no final. Muito obrigado.


Voltar à página do Debate público