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A ambigüidade é um fenômeno comum na língua e pode ocorrer a vários níveis: ao nível de função, de forma e de estrutura (nível de representação dos constutuintes nas árvores). As ambiguidades presentes nas árvores da Floresta são representadas como a seguir se descreve.
As ambiguidades de função e forma (em que aqui se inclui toda a informação morfológica, PoS e também o lema), isto é, aquelas que não implicam alteração dos níveis de constituintes relativamente às análises alternativas, são representadas através da separação das formas ambíguas por “/”:
CP312-1 Cumprindo a promessa de se deslocar ao Porto na primeira terça-feira de cada mês, para reuniões de trabalho com os responsáveis autárquicos e os agentes culturais da cidade, o ministro recebeu ontem, entre outros, o director do Teatro Nacional S. João, Ricardo Pais, a responsável do Teatro Rivoli, Isabel Alves Costa, e ainda representantes do Teatro Art ' Imagem e do Museu de Imprensa, cuja primeira fase será inaugurada pelo Presidente da República na próxima sexta-feira.
A1
STA:fcl
=ADVL/PRED:icl
==P:v-ger('cumprir') Cumprindo
==ACC:np
===>N:art('o' <artd> F S) a
===H:n('promessa' F S) promessa
===N<:cu
====CJT:pp
=====H:prp('de') de
=====P<:icl
======ACC:pron-pers('se' M 3S ACC) se
======P:v-inf('deslocar' 3S) deslocar
======ADVO:pp
=======H:prp('a' <sam->) a
=======P<:np
========>N:art('o' <-sam> <artd> M S) o
========H:prop('Porto' M S) Porto
...
CP5-7 O museu, a desenvolver sob orientação de uma comissão de notáveis, dirigida pelo Presidente da República, está orçado em seis milhões de contos, valor incomportável para a Força Aérea.
A1
STA:fcl
=SUBJ:np
==>N:art('o' <artd> M S) O
==H:n('museu' M S) museu
==,
==N<PRED:pp
===H:prp('a') a
===P<:icl
====P:v-inf('desenvolver') desenvolver
====ADVL:pp
=====H:prp('sob') sob
=====P<:np
======H:n('orientação' F S) orientação
======N<:pp
=======H:prp('de') de
=======P<:np
========>N:art('um' <arti> F S) uma
========H:n('comissão' F S) comissão
========N<:pp
=========H:prp('de') de
======= ==P<:adj('notável' M/F P) notáveis
…
A ambiguidade de estrutura, isto é, ambiguidade quanto aos níveis a que um determinado constituinte deve estar colocado, pode ser representada de duas formas, consoante o a ambiguidade seja local ou global.
A ambiguidade local é aquela em que um determinado constituinte pode estar colocado a dois níveis diferentes.
A ambiguidade pode então ser representada localmente, sem que interfira com a boa formação da árvore. Normalmente acompanhada também por ambiguidade de função, a ambiguidade estrutural local é representada da seguinte forma:
F1/Fx±<n>]:f
O nível alternativo (esteja ou não associado a uma função alternativa) é representado em função do nível primeiramente representado, isto é, [+n] significa que o nível alternativo, correspondente à função alternativa Fx, está “n” níveis abaixo do nível inicialmente representado. Da mesma forma, [-n] significa que o nível alternativo, correspondente à função alternativa Fx, está “n” níveis acima do nível inicialmente representado. Note-se que se os nós forem não terminais, os níveis dos seus constituintes comportar-se-ão de acordo com o nível alternativo em questão. Isto é, [±n] aplica-se aos nós terminais e aos não terminais e seus constituintes. Veja-se o seguinte exemplo:
CP187-2 Toda a gente acreditou que essa reunião, realizada em plena crise dos «balseros» cubanos, tinha sido programada para falar da nova crise aberta entre Cuba e os Estados Unidos e, dada a personalidade dos convivas -- García Márquez tem uma relação estreita com Castro e Fuentes defende o fim do embargo norte-americano para que se inicie uma nova etapa no longo contencioso da ilha caraíba com o seu poderoso vizinho --, deu-se como ponto assente que Cuba tinha de ter sido «o» assunto.
…
========ADVL:pp
=========H:prp('para') para
=========P<:fcl
==========SUB:conj-s('que') que
==========ACC:pron-pers('se' <refl> F 3S ACC) se
==========P:v-fin('iniciar' PR 3S SUBJ) inicie
==========SUBJ:np
===========>N:art('um' <arti> F S) uma
===========>N:adj('novo' F S) nova
===========H:n('etapa' F S) etapa
==========ADVL/N<[+1]:pp
===========H:prp('em' <sam->) em
===========P<:np
============>N:art('o' <-sam> M S) o
============>N:adj('longo' M S) longo
============H:adj('contencioso' M S) contencioso
============N<:pp
=============H:prp('de' <sam->) de
=============P<:np
==============>N:art('o' <-sam> F S) a
==============H:n('ilha' F S) ilha
==============N<:adj('caraíba' F S) caraíba
...
Quando uma das alternativas de análise implica uma descontinuidade e a outra não, exprime-se sempre a análise não descontínua.
A ambiguidade estrutural global implica a impossibilidade de representação de uma ambiguidade local sem afectar a boa formação da árvore, não sendo, por isso, possível a representação da ambiguidade em termos locais, como descrita em 3.2.
Cada árvore é encabeçada por A1 (árvore 1). A adição de mais árvores para a mesma frase é possível, através da indicação de A2, A3....An. É desta forma que a ambiguidade estrutural global é representada:
A1 <árvore> && A2 <árvore> && An <árvore>
A representação da ambiguidade estrutural global pode ser motivada pelo facto de existirem análises sintácticas geralmente distintas e má formação das árvores se se optasse pela representação de ambiguidade estrutural local. Os seguintes exemplos ilustram estas situações:
CP152-3 O PS foi o primeiro atingido pelo caso:
A1
STA:fcl
=SUBJ:np
==>N:art('o' M S) O
==H:prop('PS' M S) PS
=P:v-fin('ir' PS 3S IND) foi
=SC:np
==>N:art('o' M S) o
==H:adj('primeiro' <NUM-ord> M S) primeiro
==A<:icl(<pcp>)
===P:v-pcp('atingir' M S) atingido
===PASS:pp
====H:prp('por' <sam->) por
====P<:np
=====>N:art('o' <-sam> M S) o
=====H:n('caso' M S) caso
=:
&&
A2
STA:fcl
=SUBJ:np
==>N:art('o' M S) O
==H:prop('PS' M S) PS
=P:v-fin('ir' PS 3S IND) foi
=SC:np
==>N:art('o' M S) o
==>N:adj('primeiro' <NUM-ord> M S) primeiro
==H:v-pcp('atingir' <n> M S) atingido
=ADVL:pp
==H:prp('por' <sam->) por
==P<:np
===>N:art('o' <-sam> M S) o
===H:n('caso' M S) caso
=:
O problema de análise que aqui se levanta está em determinar qual é o núcleo do sintagma correspondente ao Predicativo do Sujeito, primeiro ou atingido ( e primeiro será seu modificador. Se se considerar que o núcleo é primeiro, então o segmento seguinte atingido pelo caso formará uma oração cuja função é a de modificar primeiro .
CP205-2 Kadhafi, da Líbia, fará o mesmo.
A1
STA:fcl
=SUBJ:np
==H:prop('Kadhafi' M S) Kadhafi
==,
==N<PRED:pp
===H:prp('de' <sam->) de
===P<:np
====>N:art('o' <-sam> F S) a
====H:prop('Líbia' F S) Líbia
=,
=P:v-fin('fazer' FUT 3S IND) fará
=ACC:np
==>N:art('o' M S) o
==H:pron-det('mesmo' <diff> M S) mesmo
=.
&&
A1
STA:fcl
=SUBJ:prop('Kadhafi' M S) Kadhafi
=,
=ADVL:pp
==H:prp('de' <sam->) de
==P<:np
===>N:art('o' <-sam> F S) a
===H:prop('Líbia' F S) Líbia
=,
=P:v-fin('fazer' FUT 3S IND) fará
=ACC:np
==>N:art('o' M S) o
==H:pron-det('mesmo' <diff> M S) mesmo
=.
Note-se que neste exemplo, a representação de uma ambiguidade local- N</ADVL [-1]- implicaria a má formação da árvore, porque o sujeito (SUBJ) seria um nó não terminal apenas com um constituinte, como se pode ver através da representação da potencial ambiguidade local (N<PRED/ADVL[-1]:pp) desdobrada em árvore completa:
STA:fcl
SUBJ:np
=H:prop('Kadhafi' M S) Kadhafi
=,
ADVL:pp
=H:prp('de' <sam->) de
=P<:np
==>N:art('o' <-sam> F S) a
==H:prop('Líbia' F S) Líbia
,
...