9. Representação de constituintes descontínuos

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Por constituintes descontínuos entende-se a interrupção de um sintagma ou oração por outros constituintes não pertencentes a esse sintagma ou oração. Os constituintes responsáveis pela descontinuidade podem ser vários. Quanto à forma, os elementos descontínuos são tipicamente sintagmas e orações (nós-terminais). No entanto, há um caso específico de descontinuidade em nós-terminais (ver secção 9.1.).

A descontinuidade pode ocorrer num sintagma, interrompendo-o em duas ou mais partes.

A representação de constituintes descontínuos é a seguinte para a descontinuidade em duas partes:

F:f-, para a primeira parte do constituinte descontínuo

-F:f , para a segunda parte do constituinte descontínuo.

A representação da descontinuidade de um constituinte em três (ou mais) partes é a seguinte:

F:f- , para a primeira parte do constituinte descontínuo

-F:f- , para a(s) parte(s) intermédia(s) do constituinte descontínuo

-F:f , para a última parte do constituinte descontínuo

É importante salientar que os símbolos da descontinuidade (-) não marcam os elementos que causam a deconstinuidade, isto é, não marcam os interruptores, mas sim os sintagmas que contêm elementos descontínuos.

Os seguintes exemplos ilustram tipos de descontinuidades:

9.1. Descontinuidade em nós terminais

O caso em que houve necessidade de tornar um nó terminal descontínuo relaciona-se com a repetição da preposição em dois sintagmas preposicionais contíguos que não são independentes. Em particular, a descontinuidade em nós terminais é observada quando: 1) no segundo sintagma preposicional, o complemento da preposição repetida é dependente (aposto, modificador, etc.) do complemento da preposição no primeiro sintagma preposicional, e 2) existe um aposto comum a dois complementos de preposição.

Os seguintes exemplos ilustram 1) e 2), respectivamente:

CP221-1 Um quarteto formado por Bob Mover (sax alto e voz), Carlo Morena (piano), Pedro Gonçalves (contrabaixo) e João Silvestre (bateria) actua a partir das 23h, na catedral lisboeta do jazz: no Hot Clube de Portugal .

CP185-3 No momento em que a União Europeia decidiu abandonar a exploração do carvão de pedra, existem cinco mil mineiros portugueses no Norte de Espanha, nas províncias de León e das Astúrias, condenados a assistir ao encerramento das minas onde trabalham.

Em CP221-1, o Hot Club de Portugal é o aposto de a catedral lisboeta do jazz . No entanto, a simples representação desta estrutura é dificultada pela repetição da preposição em o que faz com que o aposto do complemento da preposição seja também ele um complemento de uma preposição. Ou seja, o Hot Clube de Portugal tem uma dupla função em dois sintagmas distintos: como complemento da preposição, por um lado, e como aposto de um np em outro sintagma.

Em 185-3, a situação de dupla função é semelhante; as províncias de León e das Astúrias elabora o sentido de o Norte de Espanha (N<PRED ou N<) e ao mesmo tempo é complemento da preposição (em), em sintagmas distintos.

Deste modo, a descontinuidade das preposições não significa que a preposição em si seja descontínua, mas que existe uma repetição da mesma preposição e, assim, pretende-se também representar o facto de não se estar, semanticamente, perante sintagmas diferentes, fazendo com que os elementos internos nos dois sintagmas se possam relacionar sintacticamente.

Estes são casos muito pontuais, observando-se apenas em CP75-1, CP185-3 e CP221-1.


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