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Em português, a voz passiva é expressa por duas construções: 1) com o auxiliar ser e 2) com o pronome reflexo se. Os verbos de orações pasivas são marcados com a etiqueta secundária <passive>. Com isso, podem ser facilmente encontrados em uma busca que utilize a interface de procura em árvores Milhafre: basta digitar passive no campo Procuráveis
Na passiva com verbo ser, o verbo principal encontra-se na forma participial e é auxiliado pelo verbo ser. Outros verbos auxiliares (aspectuais) podem também estar presentes (ex: pode, deve, etc.). O agente da passiva, iniciado pela preposição por, pode estar expresso ou omisso. O seguinte exemplo ilustra esta construção com o agente da passiva presente:
CF2-2 Desde o último dia 13, «Confissões de Adolescente» pode ser vista por os teens portugueses.
O verbo auxiliar ser pode, em certos casos, estar também omisso. Nestes casos, teremos uma construção passiva participial, isto é, uma oração não finita com o verbo principal com forma participial e agente da passiva, que modifica um determinado núcleo. O seguinte exemplo ilustra esta construção:
CF2-3 A série exibida aqui por a Cultura estreou na TVI de Portugal
Em termos de representação em árvores, os exemplos acima apresentam a seguinte análise:
CF2-2 Desde o último dia 13, «Confissões de Adolescente» pode ser vista pelos teens portugueses.
…
=«
=SUBJ:prop('Confissões_de_Adolescente' F S) Confissões_de_Adolescente
=»
=P:vp ==AUX:v-fin('poder' PR 3S IND) pode ==AUX:v-inf('ser') ser ==MV:v-pcp('ver' <passive> F S) vista ==PASS:pp ===H:prp('por' <sam->) por ===P<:np ====>N:art('o' <-sam> <artd> M P) os ====H:n('teen' M P) teens ====N<:adj('português' M P) portugueses =.
CF2-3 A série exibida aqui pela Cultura estreou na TVI de Portugal
A1
STA:fcl
=SUBJ:np
==>N:art('o' <artd> F S) A
==H:n('série' F S) série
==N<:icl ===P:vp ====MV:v-pcp('exibir' <passive> F S) exibida ===ADVL:advp ====H:adv('aqui') aqui ===PASS:pp ====H:prp('por' <sam->) por ====P<:np =====>N:art('o' <-sam> <artd> F S) a =====H:n('cultura' <prop> F S) Cultura =P:v-fin('estrear' PS 3S IND) estreou =ADVL:pp ==H:prp('em' <sam->) em ==P<:np ===>N:art('o' <-sam> <artd> F S) a ===H:prop('TVI' F S) TVI ===N<:pp ====H:prp('de') de ====P<:prop('Portugal' M S) Portugal =.
Como se pode constatar pelas árvores acima, ser, verbo auxiliar (AUX) e o verbo principal na sua forma participial formam o predicador que é um sintagma verbal. Nos casos em que ser está ausente, o predicador (P) é apenas o verbo principal na sua forma participial.
O agente da passiva (PASS) está ao mesmo nível de constituinte que o predicador, não pertencendo por isso ao sintagma verbal (ver secção 6.2.1. a propósito da definição de predicador).
Note-se ainda que apenas o verbo ser é considerado na Floresta como fazendo parte de construções passivas, excluindo, assim, os verbos estar e ficar.
A passiva de se (também chamada passiva pronominal), por outro lado, tem apenas a presença do pronome se enquanto clítico do verbo principal. O verbo principal exibe traços de concordância com o sujeito em número. Na passiva de se, geralmente o agente da passiva é omitido. O seguinte exemplo ilustra a construção:
CP741-5 Quando se descobriram os vestígios arqueológicos, fez um protocolo com o Ippar [Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico], porque não percebia da matéria.
No Bosque, o clítico possui a etiqueta ACC-PASS e, quanto ao nível de constituinte, encontra-se ao mesmo nível que o predicador. Além disso, o verbo de orações passivas pronominais é marcado com a etiqueta secundária <se-passive>, o que os torna facilmente encontráveis com a ferramenta de busca em árvores sintácticas Milhafre, bastando digitar se-passive no campo Procuráveis. A análise é a seguinte:
CP741-5 Quando se descobriram os vestígios arqueológicos, fez um protocolo com o Ippar [Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico], porque não percebia da matéria.
A1
STA:fcl
=ADVL:fcl
==ADVL:adv('quando' <rel> <ks>) Quando
==ACC-PASS:np
===H:pron-pers('se' M 3P ACC) se ==P:v-fin('descobrir' <se-passive> PS 3P IND) descobriram ==SUBJ:np ===>N:art('o' <artd> M P) os ===H:n('vestígio' M P) vestígios ===N<:adj('arqueológico' M P) arqueológicos =, ...
O pronome pessoal reflexo, 3ª pessoa do singular, pode fazer parte de múltiplas e diferentes construções: a) construções reflexivas; b) construções transitivas; c) construções ditransitivas; d) construções intransitivas; e) construções recíprocas; f) construções colectivas; g) construções passivas (ver secção 12.1), h) construções envolvendo léxico que exibe inerentemente o clítico (determinados verbos que requerem a presença do clítico e que em isolamento não parecem ocorrer em português, como orgulhar(-se), queixar(-se), arrepender(-se)etc.) Se terá, assim, diversas funções, consoante as construções em que ocorre: ACC nas construções reflexivas, transitivas e recíprocas, DAT nas construções ditransitivas, ACC-PASS na passiva e SUBJ nas construções intransitivas e em algumas construções transitivas, dependendo da natureza do verbo principal. Há ainda um caso especial em que se tem função de vocativo (VOC).
Além das etiquetas de função, existe ainda uma série de etiquetas secundárias que permitem a distinção mais fina entre as funções de ACC, de forma a identificar o tipo de construção em que se ocorre.
Assim, para cada uma das construções teremos as seguintes etiquetas:
Etiqueta de função: ACC
Etiqueta secundária: <obj>
CF367-2 Desculpe-se .
Etiqueta de função: SUBJ
CF64-2 Também é necessário alertar toda a sociedade para a importância de se reduzir as perdas de alimentos
Etiqueta de função: VOC
CP39-3 «A conveniência desta rua é palpável...especialmente para seges e carros, o que até aqui mal se consegue antes de chegar ao sítio do banco de S. Domingos [ leia-se o Banco Comercial do Porto, que fora fundado poucos anos antes e detinha autorização para emitir notas]».
Etiqueta de função: DAT
CP145-4 Chamaram-se a si mesmos «actionistas», embora o movimento, que se espalhou largamente até aos anos 70, seja designado globalmente por «body art», ou surja nos textos de Bowie como «arte ritual».
Etiqueta de função: SUBJ
CF115-3 Tem que se pensar, para o Brasil, numa empresa com modelo acionário flexível, que permita incorporar, numa única marca, os esforços individuais desses criadores e dispor da sinergia necessária para investir no mercado internacional.
Etiqueta de função: VOC
CP263-3 Pense-se em Kingsley Amis, Malcolm Bradbury e Albert Finney.
Etiqueta de função: ACC
Etiqueta secundária: <reci>
CP890-1 Duas outras personalidades que se digladiam, sem dúvida, pelo primeiro plano no círculo do poder são o presidente da Câmara de Moscovo, Iuri Lujkov, aliado dos banqueiros e das mafias da capital, e Anatoli Chubais, o ex-vice-primeiro-ministro recém-nomeado chefe da casa civil da Presidência.
Etiqueta de função: ACC
Etiqueta secundária: <coll>
CF35-1 Quadrinhistas Do Brasil inteiro se reúnem entre sexta-feira e domingo em Araxá (MG).
Etiqueta de função: ACC-PASS
CP764-7 Podem dizer-se coisas muito válidas politicamente com uma linguagem pobre e que não entra nas pessoas
Etiqueta de função: ACC
Etiqueta secundária: <refl>
CF473-2 «Trata-se de um candidato que estreou em comício sob vaias e quer, pela via do preconceito, enfraquecer quem lidera as pesquisas», disse Falcão sobre FHC.
CF340-2 O ciclista espanhol, 48, se suicidou em Caupenne d' Armagnac, no sul da França com um tiro.
O caso em que se considerou a função de vocativo para o se aplica-se apenas no seguinte contexto:
| Tipo de construção | Etiqueta de função | Etiqueta secundária | Frase-exemplo |
|---|---|---|---|
| construções reflexivas | ACC | <obj> | CF314-2 Você se acha louca? |
| construções transitivas | SUBJ | CF64-2 Também é necessário alertar toda a sociedade para a importância de se reduzir as perdas de alimentos. | |
| ACC | CF340-6 Wator se chocou com um companheiro de equipe. | ||
| VOC | CP39-3 «A conveniência desta rua é palpável...especialmente para seges e carros, o que até aqui mal se consegue antes de chegar ao sítio do banco de S. Domingos [ leia-se o Banco Comercial do Porto, que fora fundado poucos anos antes e detinha autorização para emitir notas]». | ||
| construções ditransitivas | DAT | CP145-4 Chamaram-se a si mesmos «actionistas», embora o movimento, que se espalhou largamente até aos anos 70, seja designado globalmente por «body art», ou surja nos textos de Bowie como «arte ritual». | |
| construções intransitivas | SUBJ | CF115-3 Tem que se pensar, para o Brasil, numa empresa com modelo acionário flexível, que permita incorporar, numa única marca, os esforços individuais desses criadores e dispor da sinergia necessária para investir no mercado internacional. | |
| VOC 1 | CP263-3 Pense-se em Kingsley Amis, Malcolm Bradbury e Albert Finney. | ||
| construções recíprocas | ACC | <reci> | CP890-1 Duas outras personalidades que se digladiam, sem dúvida, pelo primeiro plano no círculo do poder são o presidente da Câmara de Moscovo, Iuri Lujkov, aliado dos banqueiros e das mafias da capital, e Anatoli Chubais, o ex-vice-primeiro-ministro recém-nomeado chefe da casa civil da Presidência. |
| construções colectivas | ACC | <coll> | CF35-1 Quadrinhistas Do Brasil inteiro se reúnem entre sexta-feira e domingo em Araxá (MG). |
| passiva | ACC-PASS | CP764-7 Podem dizer-se coisas muito válidas politicamente com uma linguagem pobre e que não entra nas pessoas | |
| construções com léxico que exibe o clítico inerentemente | ACC | <refl> |
CF473-2 «Trata-se de um candidato
que estreou em comício sob vaias e quer, pela via do
preconceito, enfraquecer quem lidera as pesquisas», disse
Falcão sobre FHC.
CF340-2 O ciclista espanhol, 48, se suicidou em Caupenne d' Armagnac, no sul da França com um tiro. |
Finalmente, há casos ambíguos, nomeadamente entre as funções ACC-PASS (se apassivante) e SUBJ (sujeito). Estes casos ambíguos correspondem a contextos transitivos em que o objecto pode comutar com a função de sujeito porque é singular. Veja-se o seguinte exemplo:
CP21-1 O russo será uma das seis línguas principais usadas por João Paulo II ..., no Encontro Mundial da Juventude, ..., onde se prevê a presença de um milhão de jovens
A frase acima pode ser perspectivada tanto como uma frase activa como passiva: “O russo será uma das seis línguas principais usadas por João Paulo II ..., no Encontro Mundial da Juventude, ..., onde a presença de um milhão de jovens é prevista.” (passiva) ou “O russo será uma das seis línguas principais usadas por João Paulo II ..., no Encontro Mundial da Juventude, ..., onde prevemos a presença de um milhão de jovens .” (activa). Há, no entanto, determinados factores que favorecem a primeira análise, e não outra, em frases transitivas. Mencionamos alguns (Afonso 2003):
Os sintagmas preposicionais complexos compõem-se de duas preposições e respectivos complementos. São, assim, dois sintagmas preposicionais que estão relacionados e que hierarquicamente são idênticos relativamente ao núcleo que modificam. As seguintes expressões são exemplos de sintagmas preposicionais complexos:
Uma vez que existe já uma representação para os casos de coordenação (ver secção 11), que não é mais do que a representação de constituintes que se unem num sintagma por evidenciarem uma relação de determinado tipo, usou-se o mesmo tipo de representação para os sintagmas preposicionais complexos. A representação é a seguinte: 1) um sintagma cuja forma é cu (compound unit) e 2) duas partes (cada um dos sintagmas preposicionais) ao mesmo nível de constituinte: PCJT. O seguinte exemplo ilustra esta representação:
CP815-2 Ensemble, de actores para actores
A1
UTT:np
=H:prop('Ensemble' M S) Ensemble
=,
=N<PRED:cu ==PCJT:pp
===H:prp('de') de
===P<:n('actor' M P) actores
==PCJT:pp
===H:prp('para') para
===P<:np
====H:n('actor' M P) actores
A sua estrutura assemelha-se assim a uma relação de coordenação pelo facto de existirem dois complementos que são hierarquicamente idênticos face ao elemento que partilham ou a toda a proposição.
Entende-se por estrutura de foco estruturas em que determinadas partes da oração são focalizadas. O Bosque possui etiquetas próprias para representar essas estruturas (FOC), de que são exemplos:
CP24-6 Aliás, era contra as «terças-feiras», propiciadoras de sugestivas «pontes», que a lei governamental mais se batia ...
O elemento foco contra as «terças-feiras», propiciadoras de sugestivas «pontes» encontra-se sinalizado sintacticamente, através da sequência composta por uma forma do verbo ser (é /era /foi ) e a conjunção que . Ambos os elementos da sequência indicadora de que um elemento é focalizado têm a função sintáctica FOC, a nível oracional. Em termos de forma, ambos os elementos são advérbios de foco. A representação é a seguinte:
A1
STA:fcl
=ADVL:adv('aliás' <kc>) Aliás
=,
=FOC:adv('era' <foc>) era =ADVL:pp ==H:prp('contra') contra ==P<:np ===>N:art('o' <artd> F P) as ===« ===H:n('terça-feira' F P) terças-feiras ===» ===, ===N<PRED:adjp ====H:adj('propiciador' F P) propiciadoras ====A<:pp =====H:prp('de') de =====P<:np ======>N:adj('sugestivo' F P) sugestivas ======« ======H:n('ponte' F P) pontes ======» =, =FOC:adv('que' <foc>) que =SUBJ:np ==>N:art('o' <artd> F S) a ==H:n('lei' F S) lei ==N<:adj('governamental' F S) governamental =ADVL:adv('mais' <quant>) mais =ACC:pron-pers('se' <refl> F 3S ACC) se =P:v-fin('bater' IMPF 3S IND) batia =...
Numa estrutura de tópico, ou de elementos pleonásticos (Cintra et al. 1985:140, 144, 146), há a repetição de um elemento, que serve como comentário a um elemento não novo na frase, como o seguinte exemplo ilustra:
CP85-8 As declarações prestou-as ontem durante o almoço que ofereceu, em S. Bento, às personalidades do teatro.
CP114-5 O fado, esse, ficou aquém.
O elemento pleonástico tem TOP como etiqueta de função, a nível oracional, e pode ser um nó terminal ou um sintagma. O elemento não pleonástico, pronominal, retém a sua função sintáctica na oração. A representação é a seguinte:
A1
STA:fcl
=TOP:np ==>N:art('o' <artd> F P) As ==H:n('declaração' F P) declarações =P:v-fin('prestar' PS 3S IND) prestou- =ACC:pron-pers('elas' F 3P ACC) as =ADVL:adv('ontem') ontem =ADVL:pp ==H:prp('durante') durante ==P<:np ===>N:art('o' <artd> M S) o ===H:n('almoço' M S) almoço ...
A1
STA:fcl
=SUBJ:np ==>N:art('o' <artd> M S) O ==H:n('fado' M S) fado =, =TOP:pron-det('esse' <dem> <foc> M S) esse =, =P:v-fin('ficar' PS 3S IND) ficou =ADVS:adv('aquém') aquém =.
1O caso em que se considerou a função de vocativo para o se aplica-se apenas no seguinte contexto:verbo principal no modo conjuntivo; verbo principal com flexão de pessoa singular ou plural;oração iniciada por verbo e clítico
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